GOVERNANÇA DAS ÁGUAS: O desafio do milênio
O termo anarquia é derivado do
grego e significa a ausência de Governo. Há duas visões: os ideólogos a
enxergam como ausência de repressão; o senso comum a entende como ausência de
ordem. No âmbito das ciências políticas, percebe-se que na convivência entre
nações não há governo, porém não há ausência de ordem. Nesse contexto surgiu o
conceito moderno de governança. Na década de 1990 dez cientistas de ciências
políticas e de relações internacionais reuniram-se para desenvolver um
entendimento comum dos conceitos mais importantes implícitos no tema.
O termo Governo “sugere
atividades sustentadas por uma autoridade formal, pelo poder de polícia que
garante a implementação das políticas devidamente institucionalizadas”. Por sua
vez, a governança refere-se a atividades apoiadas em objetivos comuns, que
podem ou não, derivar de responsabilidades legais e formalmente prescritas e
não dependem, necessariamente, do poder de polícia para que sejam aceitas e
vençam resistências.
Há certos sistemas humanos para
os quais governos, embora importante, são insuficientes para fazê-los
funcionar. A administração pública que privilegia a coerção, em detrimento de
liberdades individuais, é um atraso. Esse é um princípio mundial. Mesmo em
simples condomínios, a arrogância, que por vezes decorre do poder, pode
resultar em mau funcionamento do sistema. Hoje, o consenso entre pesquisadores
é que não há bons sistemas que funcionem centrados na coerção e em sanções
financeiras. É fundamental investir em educação ambiental. Para o bem da
humanidade, estamos deixando a era Bush e entrando na era Obama.
O sistema de águas doces é um bom
exemplo de que a presença do Governo, apesar de muito importante, é
insuficiente para fazê-lo funcionar com eficiência. A participação da sociedade
em instituições formais ou informais é indispensável para que as águas sejam
bem utilizadas e preservadas para as futuras gerações. Todavia, o que é
participar?
Escolher bons políticos, com
visão ambiental, é uma das maneiras. De parlamentos comprometidos e bem
informados não emanam, em nome de um pseudodesenvolvimento, leis que degradam e
comprometem o meio ambiente e a qualidade das águas. Foi nessa lógica que
perdemos a maior parte de nossas dunas e que poluímos nossas águas
subterrâneas. É nessa ótica que convivemos com um trânsito caótico. É hora de
repensar e preservar o remanescente. É hora de participar.
Participar não é só votar e
reivindicar. É agir com responsabilidade para com as águas, com o ambiente e
com todos os seres vivos. É não jogar
lixo nos corpos de água, nem no espaço público. É não poluir. É proteger o meio
ambiente. É não fechar os olhos diante de crimes ambientais. É ser parceiro do
Ministério Público e da Justiça na defesa dos direitos difusos da sociedade. É,
acima de tudo, agir como cidadão e exigir ser tratado com cidadania.
Podemos pensar nosso planeta como
uma nave que se desloca no tempo. Os governantes e políticos são a tripulação;
nós, sociedade civil, somos os passageiros. Desastres em naves não podem ser
atribuídos aos passageiros. Daí a importância na escolha da tripulação e em
ficar atento à maneira como os tripulantes conduzem a navegação. Porém, para
uma confortável viagem, devemos cuidar de nossas acomodações, das áreas comuns
e tratar bem nossos companheiros. O Dia Mundial da Água é um bom momento para
refletir sobre a viagem da vida e também para agir, pois cuidar das águas e do
meio ambiente é cuidar da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário