DEMOCRACIA,
PARTIDOS E PATOTAS
O estudo das formas de governo e a formulação de um
modelo ideal tem sido um desafio para filósofos e cientistas políticos. Aristóteles,
sucedendo a Platão, estabeleceu, há mais de dois milênios, uma tipologia que se
tornou clássica. Utilizando o critério de quantidade, ele definiu: Monarquia
como governo de um só; aristocracia como governo de um pequeno grupo; e politéia
como a forma ideal, onde o governo seria formado pela aristocracia, no sentido
de favorecer os mais capazes e pela democracia, no sentido de permitir que
qualquer pessoa pudesse concorrer a cargo público.
Essas formas de governo podem ser boas quando visam
interesses da maioria, ou corrompidas quando visam interesses particulares. Nessa
linha elas degeneram em tirania, oligarquia e democracia, na época entendida como
a maioria pobre governando em detrimento da minoria rica e da aristocracia.
Após
Aristóteles novos conceitos surgiram. A teoria do Estado foi objeto de estudo
de muitos filósofos. A democracia passou a ser entendida como governo do povo e
aceita como a forma ideal de Governo. A democracia pode ser a direta ou a
representativa. Na forma ideal da democracia representativa os políticos
organizam-se em partidos que têm ideologias ou idéias comuns explicitadas em
programas partidários. O povo os elege para executarem programas apresentados em
campanha e compatíveis com a ideologia partidária. Esse é nosso modelo teórico.
Porém, como seria a forma corrompida da democracia
representativa? Quais os caminhos que levam a ela?
As distorções começam no momento em que os partidos não
se identificam com seus ideais ou seus programas. Os políticos juntam-se em
torno de interesses particulares e, quando não se sentem atendidos, mudam de
partido como quem muda de patota. Buscam ser atendidos por outro grupo mais
ligado ao poder. Ora, qual o melhor mecanismo do Poder para atrair novo partidários? A distribuição dos cargos
públicos entre os parceiros de campanha e entre os que se dispuserem a ser
cooptados. Essa forma corrompida da democracia representativa, movida a fisiologismo,
poderia ser chamada de patotacracia. Nela,
substituem-se os burocratas concursados por pessoas dos grupos políticos
contemplados (os patotocratas).
Como evitar que essa situação ocorra ou sair da mesma caso
tenha ocorrido? Esses são desafios para a cidadania e a sociedade. Porém, como
ter cidadania em um contexto de lideranças políticas de patotas? Somente o
senso crítico, a educação e a prática política com cobrança e ética podem
evitar.
Olhemos ao nosso redor e façamos uma reflexão: Será que
estamos, ou corremos o risco de cair nessa armadilha? Se assim for, é bom
termos cuidados e mudarmos de atitude no processo democrático, pois a patotacracia, tal como o Leviatã de Hobbes,
é um modelo perverso.
Cobremos dos políticos que elegemos uma postura ética,
compatível com uma boa democracia representativa e, principalmente, que cargos
públicos não sejam objeto de barganhas políticas. É indispensável cobrar uma
reforma política que não se limite a aumentar as verbas públicas para as
campanhas e tenha como objetivo a busca de uma forma de democracia realmente representativa.
A fidelidade dos eleitos aos partidos e dos partidos aos seus programas está no
centro desse modelo.
Text publicado em 2008 na Tribuna da Imprensa -RJ. Ainda está atual
Excelente texto, Prof. Nilson. Infelizmente, estamos vivendo um momento muito triste na politica, e a sociedade encontra-se estática, sem tomar nenhuma atitude diante dos absurdos políticos... Espero que em 2018, possamos responder nas urnas...
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